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A Obra Literária de Marcos Dorian Sá

"Escrever é saber traduzir o exato sentimento que o inspirou."

Marcos é soteropolitano e adora viajar. Sendo professor de Linguagens e Literatura, vive do mundo da escrita desde 2007, quando começou a ensinar.

É um pai dedicado e um esposo cheio de amor, gosta de estudar, ler e assistir a filmes e séries. Brasileiro, com muito orgulho, tende a escrever sobre a realidade do seu povo.

O seu maior sonho é fazer com que a Educação, no país, se torne a maior de todas as prioridades e, assim, a igualdade e a fraternidade reinem sem nenhum empecilho.

Dando sequência para nossa série de entrevistas com autores da Palavra & Verso, trazemos aqui um pouco da trajetória literária de Marcos, bem como suas inspirações, seus próximos projetos, etc. Confira:





Palavra & Verso - Com que idade você começou a escrever, e quem mais te apoiou no início de sua carreira como escritor?

Marcos Dorian Sá - Fui introduzido ao mundo criativo aos nove anos, por minha irmã, quando, por uma pegadinha, fui forçado a assistir ao filme “It” (a versão 1990 de Stephen King). Em seguida, em um trabalho escolar, precisava criar uma historinha para apresentar aos pais no final do ano; influenciado pelas imagens que vi, acabei criando um personagem chamado “O Mascarado” que atacava as pessoas, fingindo ser um mágico, para sequestrá-las e fazê-las desaparecer. Obviamente, aquilo não pegou nada bem na escola, e a minha mãe foi chamada para uma boa conversa com a professora e a diretora. Tudo terminou bem… Anos depois, voltei para a mesma escola como professor e, até hoje, mantenho um ótimo relacionamento com a direção e, obviamente, com os meus pais. Então posso dizer que o primeiro apoio que tive para me tornar escritor foi o de Pennywise (rs).

 


Palavra & Verso - Quais são suas principais referências para escrever? Cite alguns dos seus autores favoritos.

Marcos Dorian Sá - Tenho algumas boas referências: Dostoiévski e a sua maneira de enxergar o mundo de forma crua e realista; Stephen King por conseguir fazer as pessoas acreditarem que ele é um mestre do horror quando, na verdade, ele é um escritor dramático que sabe criar personagens como ninguém; Machado de Assis, pois, desde que iniciei a minha carreira de professor, consegui compreender que o brilhantismo não está em um enredo, mas na forma como se conta a história; por fim, creio que posso colocar Edgar Allan Poe que foi capaz de criar um mistério literário na sua própria morte.

 


Palavra & Verso - Como é o seu processo de criação? Você passa por bloqueios criativos?

Marcos Dorian Sá - Não se deve chamar de escritor aquele que nunca se sentou, em frente ao computador (ou máquina de escrever) e chorou por não saber conduzir uma história que tinha em mente. Hoje, muita gente acredita que escrever é digitar o que se pensa; eu creio que escrever é saber traduzir o exato sentimento que o inspirou. Quando penso em uma história, tento reproduzi-la em minha cabeça como leitor: se eu estivesse lendo essa obra, ela me faria sentir o que eu estou sentindo como escritor? Eu chorei com essa parte? Senti raiva? Em conversa com outros autores, percebo que muita gente se certifica de saber escolher as palavras certas na hora de escrever; pra mim, o mais importante é terminar de escrever, distanciar-se da obra e voltar a lê-la. Se, ao fim desse processo, eu estiver surpreso com o que escrevi, essa história vale à pena; caso contrário, vai parar no limbo das histórias que nunca deveriam ter saído da minha cabeça.

Meus personagens precisam causar, em mim, o mesmo sentimento que eu desejo que eles causem nos outros leitores.

 


Palavra & Verso - Ainda falando sobre o seu processo de criação, quais são os desafios diários de ser escritor?

Marcos Dorian Sá - Não deixar de escrever. Com tanta tecnologia e velocidade de informação, corremos o risco de ter uma ideia atropelando a outra. Em meio ao processo de escrita de uma história, sinto que tantas outras querem usurpar o seu lugar, empurrá-la para um buraco, a fim de brilhar mais e ter a sua chance de ser escrita. Por isso, eu preciso de um espaço, preciso escrever aquilo, primeiramente, de qualquer forma para, só depois, lapidá-la da maneira como quero. Outro processo doloroso é a autocobrança. Quando estava escrevendo “Uma Questão de Tempo”, tive as minhas dores por não ser um homem preto, que viveu qualquer tipo de preconceito ou descredibilização pela cor da minha pele. Achei-me subversivo com os meus amigos pretos; mas, depois de ler e reler a história, compreendi que quem estava falando não era a minha experiência, mas o meu amor pelos que sofrem. Decidi, então, que era mais do que justo permitir que outras pessoas pudessem sentir o que eu senti… No final das contas, deu certo. Recebi inúmeras mensagens de pessoas chorando, reconhecendo os seus preconceitos e fazendo textos pedindo perdão por nunca ter se sensibilizado com a dor do outro. Dadinho venceu essa guerra, e eu fico feliz que ele tenha me usado para tal.

 


Palavra & Verso - De onde veio a inspiração para o seu livro “Uma Questão de Tempo”, e como surgiu a ideia do título?

Marcos Dorian Sá - O tempo sempre foi uma incógnita para todos nós. Desde sempre, vi-me como uma pessoa sensível à dor do outro. Tornei-me professor para tentar ajudar o mundo a criar mais sensibilidade através da arte (no meu caso, a Literatura). Mas, após a fase adulta, percebi que as pessoas ao meu redor estavam partindo e não haviam conseguido realizar os seus maiores sonhos. Foi ali que eu vi que a vida é uma questão de tempo e me fiz essa pergunta: “Quanto tempo você tem?” - Automaticamente, percebi que o meu tempo era o agora e eu precisava colocar sanar a minha dor da alma. Caminhando por uma das ruas de Salvador, vi uma mãe e uma filha pedindo comida na porta de um restaurante e ninguém se importava com elas. Um casal, saindo desse mesmo restaurante, fingiu não ver a mãe e a filha com fome, mas, a alguns passos à frente, deram um dinheiro para um rapaz que estava tocando violão. Questionei: “O que fez eles darem dinheiro para um e fingirem a inexistência do outro?” - e a única diferença óbvia, à minha frente, era a cor da pele. Aquilo me doeu a ponto de chegar em casa e começar a ruminar algo que fizesse as pessoas compreenderem o que estava acontecendo. Poderia ter criado uma história qualquer, mas Dadinho reuniu tudo o que mais me doía: uma criança preta, pobre, abusada psicologicamente pelo pai que, por uma infelicidade, tinha o sonho de ter algo que todas as outras crianças tinham, menos ela (o direito de ir à escola).

 


Palavra & Verso - Como foi a criação do personagem central da obra, Dadinho? Fale um pouco sobre ele.

Marcos Dorian Sá - Dadinho é uma mistura de vários sonhos do brasileiro. Quando ele me visitou em mente, pela primeira vez, eu percebi que era uma esperança, tanto é que ele se transmuta durante todo o processo do enredo. É importante que o leitor compreenda que Dadinho é cada um de nós, exposto em necessidades diferentes. Muitos dos meus leitores vieram me dizer que se identificaram com ele, e, dentro desse grupo, tenho pessoas mais velhas, adolescentes, brancos, pretos, trabalhadores, sonhadores, pessoas com necessidades especiais e tantos outros estereótipos da nossa sociedade. Isso faz com que se cumpra, exatamente, o que eu queria com esse livro: trazer à tona a realidade de que nós brasileiros precisamos nos unir em prol de uma causa maior, da salvação da nossa sociedade e que isso só irá se cumprir através da Educação. Todo o problema de comunicação, pelas diversas linguagens na história, mostra que o poder da oratória é uma chave para conquistas maiores. Por isso, todos os dias, eu peço às pessoas que leiam mais, sensibilizem-se mais e atuem de maneira mais ativa no espectro social do nosso país.

 


Palavra & Verso - Como você sente que foi a recepção da obra, por parte dos leitores?

Marcos Dorian Sá - Como eu falei anteriormente, eu só decido tornar pública uma história que tenha me emocionado; sendo assim, eu acreditei, desde o começo, que as pessoas sentiriam a dor de Dadinho, sentiriam as mazelas feitas contra ele. Foi bom ouvir pessoas, que nunca demonstraram nenhum interesse nesse setor social, falarem que precisavam agir mais, que precisavam fazer alguma coisa. E, pelo outro lado, muita gente ficou preocupada em aproveitar o tempo de vida que têm (que é o ponto secundário da obra, mas de muita importância).

 


Palavra & Verso - Você tem muitos projetos em mente? Pode falar sobre algum deles? Fale um pouco sobre sua trajetória literária.

Marcos Dorian Sá - Sim… Atualmente, estou alimentando um livro de contos de suspense filosófico no Wattpad (podem procurar por Marcos Dorian Sá - “Reflexos”). Cada conto relata um sentimento humano (solidão, desespero, confiança…) e vai deixar alguns fios de cabelo de pé. A recepção tem sido bem bacana e muita gente tem me procurado pra falar que, além de fazer chorar, tenho conseguido fazer as pessoas sentirem medo. Isso é ótimo!

 


Palavra & Verso - Gostaria de deixar um recado de motivação para novos escritores continuarem a buscar por seus sonhos?

Marcos Dorian Sá - Quanto tempo você tem?

 


Palavra & Verso - E por último, um bate e volta:

Uma pessoa: Monique (a minha esposa que me faz sentar e escrever com a melhor das intenções);

Um livro: Crime e Castigo (de Dostoiévski);

Uma música: Comfortably Numb (Pink Floyd);

Um gênero: Suspense/Terror;

Um filme: O Exorcista (de William Friedkin);

Um sonho: Ter feito tudo o que eu vim pra fazer antes de partir;

Uma frase: A morte é apenas um atalho para a vida eterna.



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