"Façam uma obra sobre aquilo que vocês amam, não apenas porque é o tema que está em alta."
Paulo S. R. Sampaio nasceu em 1996, em Recife, Pernambuco, mas passou grande parte de sua vida morando em diversas regiões do Brasil. Pelo fato de seu pai ser militar, sempre se encontrava vivenciando novos deslumbres de nosso país. É licenciado em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), pós-graduando em Docência para o Ensino Superior na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e bacharelando em Administração na Universidade Paulista (UNIP). Desde sempre, tinha a mente imersa em diversas obras que abordavam as temáticas de ficção científica, contos medievais, viagem no tempo e horror cósmico. O amor pela escrita surgiu quando percebeu que, através de uma caneta e uma folha de papel, poderia dar origem a incontáveis realidades, mundos além das fronteiras dos sonhos.
Dando sequência para nossa série de entrevistas com autores da Palavra & Verso, trazemos aqui um pouco da trajetória literária de Paulo, bem como suas inspirações, seus próximos projetos, etc. Confira:
Palavra & Verso - O que te inspirou a começar a escrever histórias de fantasia?
Paulo S. R. Sampaio - Meu interesse pela fantasia começou quando entrei em contato com as obras de H.P. Lovecraft, que retratavam o horror cósmico. Sempre havia algo que me fascinava nas ambientações macabras, porém dotadas de uma elegância peculiar digna do período vitoriano. O confronto dos mais diversos personagens com as mais inimagináveis criaturas incompreensíveis do panteão do Cthulhu Mythos aumentava meu fascínio pelo desconhecido a cada conto. Iniciei lendo dois contos clássicos do autor: "O Chamado de Cthulhu" e "A Cor que Caiu do Espaço". A partir dessa introdução ao universo literário, fui desbravando outras obras de diversos autores, sendo minhas maiores preferências as temáticas medievais e obras de horror, dois gêneros que me geraram grande apreço ao longo da minha caminhada literária.
Palavra & Verso - Quais autores e obras te influenciaram mais no desenvolvimento do seu estilo e temáticas?
Paulo S. R. Sampaio - Os principais autores que me serviram de inspiração para o desenvolvimento da minha narrativa e suas respectivas obras são: o jogo sombrio "Dark Souls 2", desenvolvido pela brilhante mente de Hidetaka Miyazaki; o livro "A Cor que Caiu do Espaço", de H.P. Lovecraft; a brilhante saga de filmes "O Senhor dos Anéis", de J.R.R. Tolkien; e o brutal mangá "Berserk", do autor Kentaro Miura. São obras que marcaram minha vida como leitor e escritor, feitas com um primor inigualável, na minha opinião.
Palavra & Verso - Como você cria e desenvolve os mundos onde suas histórias acontecem? Você segue algum método específico?
Paulo S. R. Sampaio - O mundo no qual a narrativa se passa é desenvolvido com o máximo de esmero possível da minha parte. Gosto de imaginar cada detalhe desse mundo, desde a formação de seus continentes e os respectivos biomas de cada localidade, até imensas cidades, fortalezas impenetráveis, castelos sombrios, masmorras tomadas pela mais profunda escuridão e imponentes montanhas que chegam próximas às nuvens. Depois de criar o local, sempre procuro registrar a história de fundo da respectiva localização, como forma de dar um passado para a localidade e uma conexão com os demais ambientes próximos.
Palavra & Verso - Você se inspira em mitologias ou culturas específicas para criar as suas histórias? Se sim, quais?
Paulo S. R. Sampaio - Sim, é inegável que minhas produções têm inspiração em culturas antigas que já residiram na história da humanidade. Tive inspirações nas belíssimas obras artísticas esculpidas pelos gregos, nas misteriosas pirâmides e monumentos construídos pelos egípcios, e na ambientação que se passa na brutal Idade Média, onde a crueldade reinava e a morte assombrava os homens com uma ferocidade avassaladora.
Palavra & Verso - Quais são os maiores desafios que você enfrenta ao escrever fantasia, especialmente no contexto da literatura nacional?
Paulo S. R. Sampaio - A escrita de fantasia, em específico, é bem complexa, pois o autor precisa ter consciência de que seu universo deve ser capaz de levar o leitor a um nível de imersão narrativa distinto. Para escrever sobre fantasia, é necessário se debruçar em estudos culturais e sociais de diversos povos e épocas diferentes. O desenvolvimento do mundo e dos personagens é certamente um trabalho árduo, porém muito satisfatório. No cenário nacional, os maiores desafios enfrentados na área da escrita de fantasia são a consolidação da imagem de sua obra no mercado editorial, pois leva tempo para uma obra ser conhecida, e o trabalho duro do autor para fazer seu trabalho ser reconhecido em seu próprio país.
Palavra & Verso - Como você desenvolve seus personagens? Você tem algum personagem favorito dentre os que criou?
Paulo S. R. Sampaio - Quando inicio o desenvolvimento de um personagem, penso primeiramente em qual será sua função durante a narrativa. Se ele terá um papel de destaque na trama atual ou se seu desenvolvimento narrativo será trabalhado de maneira mais metódica. Em um segundo momento, planejo a função do personagem, qual será seu papel na trama e quais localizações ele frequentará ao longo do enredo. No terceiro momento é que finalmente dou uma forma concreta para esse personagem, moldando suas principais características físicas, mentais e morais. Por último, mas não menos importante, defino sua personalidade, pois, de acordo com ela, defino o estilo de fala e os principais comportamentos do personagem.
Bem, eu diria que sim, mas, para mim, particularmente, o meu personagem favorito seria o caçador louco, vindo das terras gélidas e enigmáticas do Pomar Branco, Sir Florence. É um personagem muito intenso, com suas cenas repletas de um sentimentalismo e companheirismo genuínos. Entretanto, sua trajetória é uma das mais brutais da narrativa, havendo vezes em que até eu, que o escrevo, tenho que dar uma parada para pegar fôlego, pois sua trajetória geralmente é dotada de um frenesi horrendo. Toda vez que escrevo sobre sua trajetória, mais um pedaço do passado nebuloso de Florence se revela, até para mim. Isso me intriga muito a respeito desse personagem, que se revela de maneira tão simples e descontraída, mas esconde uma trajetória além da compreensão do próprio autor. Suas interações inusitadas com os demais personagens e sua imprevisibilidade são aspectos que mantêm ele como o meu personagem favorito da narrativa. Claro que dou muita atenção e carinho para todos os meus personagens, nenhum deles foi feito por mero acaso; todos têm seu propósito e trajetória. Mas, de todos, o que se destaca para mim é o caçador louco.
Palavra & Verso - A fantasia permite a exploração de temas complexos e atuais. Quais temas você mais gosta de explorar em suas obras?
Paulo S. R. Sampaio - Realmente, a fantasia tem uma capacidade incrível de reproduzir temas presentes em nosso cotidiano de formas únicas através de suas histórias rebuscadas e personagens emblemáticos. Temas recorrentes em minhas obras geralmente são: a decadência dos heróis, a corrupção humana, a barbárie dos homens, os sofrimentos solitários que assombram a mente, a religião e suas diversas interpretações, a solidão que atormenta os espíritos solitários, a busca por um propósito, entre outros temas que considero relevantes para serem abordados em minhas narrativas.
Palavra & Verso - Como você vê o mercado de literatura de fantasia no Brasil? Quais são as oportunidades e desafios para escritores desse gênero?
Paulo S. R. Sampaio - O mercado literário de fantasia no Brasil está avançando a passos vagarosos. Embora haja um número considerável de obras nacionais de fantasia sendo lançadas, acredito que o mercado nacional precisa investir mais na área de marketing dessas obras, trazendo mais essas preciosas produções nacionais para os holofotes, para que elas se tornem mais conhecidas pelos leitores. Muitas ótimas produções nacionais não estão recebendo a devida atenção. O mercado de fantasia nacional precisa se voltar mais para os anúncios e divulgações da imensa diversidade de obras que temos em nosso país. Acredito que esse seja o cenário do mercado literário de fantasia no Brasil, na minha humilde opinião.
Palavra & Verso - Pode compartilhar um pouco sobre seu processo de escrita diário? Você segue uma rotina específica?
Paulo S. R. Sampaio - O projeto de criação da obra "O Sonho do Cavaleiro" foi um processo árduo, pois envolveu muito estudo do período medieval e das questões morais que afetavam essa época específica, assim se deu o processo da idealização do cenário e das temáticas a serem abordadas. Na perspectiva do processo literário, a escrita da obra em si levou um ano e meio, onde me condicionei a escrever duas páginas por dia, dessa maneira durante todos os dias da semana, em um ritmo lento, porém constante. Dava atenção a cada duas páginas, seguindo de uma forma que eu não tinha pressa de acabar, mas sim estava interessado em respeitar o processo de criatividade e a coerência literária. A cada capítulo, era elaborado um roteiro com a estrutura e pontos relevantes para a continuidade da história.
Palavra & Verso - O que te inspirou a criar o personagem Asher em "O Sonho do Cavaleiro"? Há alguma característica dele que você considera essencial para a história?
Paulo S. R. Sampaio - Asher, o cavaleiro sonhador, é um dos principais protagonistas da obra. Ele sempre foi um personagem curioso para mim; sinto que eu apenas o criei, mas nunca fui capaz de conhecê-lo verdadeiramente. A cada capítulo que eu o desenvolvia, um novo detalhe sobre sua personalidade peculiar era revelado, como se ele tivesse vergonha de se mostrar por completo para seu criador. Minha principal inspiração para criar Asher foi a vontade de desenvolver um personagem que se afastasse dos padrões já estabelecidos de protagonistas de fantasia. Através desse desejo, fui dando forma ao personagem, criando um cavaleiro caído, com uma personalidade melancólica e reclusa, sua falta de esperança em um futuro melhor, a desconfiança doentia que o enlouquecia em seus momentos solitários. Mesmo caminhando com suas últimas forças pelo sonho sombrio, ele ainda procurava por um motivo para empunhar sua espada. Asher possui muitas características essenciais para a história, pois nessa obra os personagens não são heróis tentando salvar o mundo de um vilão. Os protagonistas são meros sobreviventes em um mundo prestes a se afundar na ruína, almas sombrias e perturbadas pela fúria de um sonho cruel e traiçoeiro, onde cada personagem terá de buscar um propósito para sua existência e uma forma de sobreviver ao fim de todas as coisas.
Palavra & Verso - Qual conselho você daria para aspirantes a escritores de fantasia que estão começando agora?
Paulo S. R. Sampaio - Façam uma obra sobre aquilo que vocês amam, não apenas porque é o tema que está em alta. Pois, ao fazer algo que amam, certamente não será problema colocar dedicação máxima naquilo. Ter paixão pela sua obra é importante, mas também é vital o desenvolvimento de uma rotina de produção, estabelecer um número mínimo de páginas como meta e criar disciplina. Somente assim o autor consegue produzir seus projetos, independente das diversas intempéries da vida.
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