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Os versos (im)perfeitos de Patrícia Falcão

"Para escrever é necessário viver, ousar e enxergar além do que os olhos percebem."

Patrícia Falcão é uma eterna aprendiz nascida no ano de 1979 em Goiânia - GO. Uma libriana sempre apaixonada pela vida, que desde a adolescência busca retratar seus sentimentos através da escrita. Em 2021 publicou com a editora Palavra & Verso seu livro de poemas Imperfeição, no qual desbrava seus sentimentos de forma singular e poética.

Dando sequência para nossa série de entrevistas com autores da Palavra & Verso, trazemos aqui um pouco da trajetória literária de Patrícia, bem como suas inspirações, seus próximos projetos, etc. Confira:




Palavra & Verso - Você sempre quis ser escritora e poetisa? E quem mais te apoiou no início da sua carreira literária?

Patrícia Falcão - Nunca havia imaginado essa possibilidade. Na área artística eu pensava ser dançarina, até fiz parte de um grupo de dança contemporânea e dança flamenca, mas jamais imaginei que o que eu escrevia seriam poesias ou algo interessante para que alguém tivesse vontade de ler. Sinceramente, não tive um apoio para esse caminho porque acabei pegando todo mundo de surpresa, quando viram, já estavam prontos. Alguns professores de Psicologia foram importantes porque me fizeram enxergar e acreditar no que eu escrevia, exemplo disso foi a publicação de vários poemas no jornal da faculdade. Ainda considero estar no início desse universo literário, estou aprendendo bastante e descobrindo um potencial que estava adormecido em mim, há muito para se aperfeiçoar. Então posso dizer que atualmente, as pessoas que mais me apoiam são minha mãe e meus filhos. Claro, não posso deixar de citar aqui todos que participaram do projeto Catarse, sem dúvidas foram e são grandes apoiadores.



Palavra & Verso - Fale um pouco sobre o seu gênero de escrita, e qual é a importância dela em sua vida como leitora e escritora.

Patrícia Falcão - O poema faz parte do gênero literário lírico, onde podemos expressar formas de sentir o mundo diante nossa profundidade, algo subjetivo e por isso muitas vezes não recebe a visibilidade merecida. Pode seguir uma métrica, ritmo, ter rimas ou ainda ser escrito em versos livres. Retrata todas as formas de emoções, sentimentos, prazeres, dá voz para injustiças, questões políticas, sociais, religiosas e até didáticas. A maior importância dela para mim como leitora foi iniciar meu interesse ao mundo dos livros de forma mais amena e estimular a conhecer outros gêneros paulatinamente, além de ser fonte e servir de base para minha escrita. Quanto a ser escritora, ela é importante porque a cada palavra escrita percebo transformações em meus pensamentos e atitudes, além de ampliar minha criatividade, diminuir meu stress e me trazer mais calma. A poesia traz uma certa elegância, mesmo quando o assunto é mais pesado.



Palavra & Verso - Como surge a poesia na sua rotina? Você costuma escrever todos os dias?

Patrícia Falcão - Pode vir tanto do encantamento com determinada situação, como de tristeza e frustrações ocorridas durante todo o dia. Às vezes acordo inspirada e preciso logo colocar uma ideia no papel, mas dependendo do que tenho para fazer ou onde estou, não tem como, então o celular facilita muito, gravo áudios, tiro fotos e arquivo palavras para trabalhar com aquela ideia novamente mais tarde. Também tem os dias que fica tudo branco, dá um certo bloqueio, então a escrita vem mais do suor, do estudo, da pesquisa e elaboração de um contexto imaginativo mais pautado no pensamento do que na intuição. Sim, escrevo um pouco todos os dias, escrever faz parte da minha rotina, é como escovar os dentes, não consigo dormir sem escrever ao menos uma frase. Geralmente escrevo à noite ou entre intervalos dos atendimentos dos pacientes.



Palavra & Verso - Quais são os seus poetas e escritores favoritos, que influenciaram a sua forma de escrever?

Patrícia Falcão - Gosto de Cora Coralina, Gilka Machado, Clarice Lispector.

Cora me encanta com sua simplicidade, Gilka com sua sensibilidade e ousadia e Clarice com a profundidade e inquietações da alma e, claro, suas inúmeras questões psicológicas.



Palavra & Verso - Fale um pouco sobre como veio a inspiração inicial para o seu livro “Imperfeição”, e qual o motivo de o livro ter esse título.

Patrícia Falcão - Minha ideia para publicar o livro na verdade, veio no início da pandemia. Tudo parado, não havia muito o que fazer, fui mexer em algumas caixas e vi um monte de cartas, inclusive as que eu escrevia para mim mesma, rs. Quase todas com um toque poético, algumas reescrevi, outras, fiz novos poemas e quis organizá-los, já que como disse acima, ter certa dificuldade nesse contexto. Inicialmente eu iria juntá-los, publicar e dar para poucas pessoas como sinal de esperança para aquele momento. Ao fazer o orçamento, não conseguiria todo o capital. Então resolvi participar do projeto Catarse, onde cada apoiador contribuiu para o pagamento total com as despesas. O motivo do título foi por causa de um dos poemas escritos nele que se refere principalmente à busca da mulher perfeita, sutilmente chamando a atenção aos perigos do perfeccionismo.



Palavra & Verso - Você produz conteúdo para o Instagram, no perfil @escritaterapia.se; fale um pouco sobre como é a rotina de fazer o material para divulgar nas redes sociais, e como é a dinâmica de interagir com seus leitores on-line.

Patrícia Falcão - Sabe o “se vira nos trinta“, sou eu ali, rs... quem observar, a página inicia com homenagens para pessoas que admiro, às vezes era aniversário ou data comemorativa de casamento, profissão e etc. Postava pouco, não sabia e ainda não sei mexer muito com a arte, ficava com medo de parecer boba, expor as pessoas e tudo mais que tinha com os afazeres diários. Com as permissões concedidas, vi que elas gostavam, e mais: outras pessoas se identificavam a ponto de me chamarem no direct e me pedirem para fazerem para elas também. Aos poucos, fui misturando alguns momentos da minha profissão e as coisas foram acontecendo, as pessoas foram interagindo com elogios, incentivos e questionamentos. Pelo Instagram além dos leitores, captei vários pacientes. Faço parte de um trabalho social pelo perfil @psicologosdeplantão_, onde o convite surgiu por causa da escrita e da minha página que permitiu nosso encontro. Tento postar um dia sim, outro não, mas não tenho um critério. Quando dá vontade, vou lá e posto, e quando dá vontade, sumo por um tempo também, rs. A dinâmica de interação é maravilhosa, contagiante, até vicia. Gosto dos feedbacks e gosto de conhecer quem está por ali, é quase impossível, mas alguns perfis são tão interessantes que faço maior esforço. Porém, preciso de cautela e monitoramento, afinal é fora dali que fazemos o ali e o aqui existirem, se é que me entendem... rs



Palavra & Verso - A sua área de formação, a Psicologia, exerce alguma influência sobre a sua escrita?

Patrícia Falcão - Sim! Desde a inspiração, motivação até qual o contexto quero abordar com aquele poema ou texto. Ter contato com tantos filósofos como Sartre, Descartes e Sócrates por exemplo, traz uma gama de ideias e conhecimentos para a criação de algo mais reflexivo e existencialista. Aprender com Freud, Jung, Wilhelm Wundt, Pavlov, Carl Rogers, Skinner, Bandura e etc, amplia a visão global do ser humano permitindo explorar um universo misturando o sentido de várias teorias. Assuntos como a mente, personalidade, sofrimento psíquico, inconsciente, sensações, ideias, pensamentos, sentimentos, emoções e inúmeros outros servem como ferramentas para ampliar o trabalho do escritor. Sem dúvida, o atendimento clínico também interfere porque me dá a chance de vislumbrar cada história, transformação, melhora, lágrima e memórias de forma criativa e inspiradora.



Palavra & Verso - Em “Imperfeição”, conhecemos um pouco do seu universo poético. Fale um pouco sobre o livro e quais sentimentos deseja despertar nos leitores com seus poemas.

Patrícia Falcão - O livro não segue uma proposta específica, foi uma junção de poemas com diferenciados assuntos, porém mais pautados na questão de nossa espiritualidade e como conectar com ela. Gostaria que os leitores pudessem sentir a força, resiliência e principalmente não ter medo de recomeçar.



Palavra & Verso - Ainda sobre o livro “Imperfeição”; você tem um poema favorito no livro? E por qual motivo?

Patrícia Falcão - É difícil escolher só um, rs. Todos possuem diversos motivos para serem “o favorito”, mas gosto muito da “Filosofia do movimento” justamente por passear ali pelas dificuldades da vida, dos erros e fragilidades com leveza, coragem e o fechamento dele com a mensagem de que a vida só pode ser bem vivida e refeita em movimento, independente de qual movimento for. “Divã” também não posso deixar de citar, muitas pessoas têm interpretações fantásticas dele, acho maravilhoso! Ele foi o primeiro poema que escrevi quando iniciei o curso de Psicologia e logo em seguida, a terapia. Como nunca havia deitado em um divã, coloquei a experiência de nossa transferência no papel, rs.



Palavra & Verso - Em 2016, você lançou o livro infantil Catapora; você pretende lançar mais livros do gênero infanto-juvenil no futuro?

Patrícia Falcão - Pretendo sim, estou cogitando a ideia de um romance ou algo investigativo de um adolescente com alguns sintomas de transtornos psicológicos. Mostrar a rotina, as dificuldades, como é o pensar e sentir dele perante as várias áreas da vida e outras coisas por aí... já dei spoilers demais, rs. Tenho três livros também que seriam para um trabalho em escolas sobre “dons” e ao mesmo tempo levar o incentivo ao “treinamento”, ‘Bia e a bola” refletindo o dom de uma garota no futebol, “O teatro de Isabela” mostrando as milhares de faces que podemos nos permitir e “Boneca de pano” para reflexão de como podemos tratar as pessoas fazendo uma comparação com uma talentosa jovem que faz ginástica artística. Esses livros estavam em uma editora para a publicação esse ano ainda, mas por alguns motivos tive que cancelar e agora estou procurando outras para, em breve, tê-los em mãos.



Palavra & Verso - Você tem muitos projetos em mente? Pode falar sobre algum deles? Fale um pouco sobre sua trajetória literária.

Patrícia Falcão - Bem, os mais próximos são esses dois citados acima, que futuramente apresentarei para algumas escolas. Penso muito nessa união da Psicologia com a literatura e escrita, porque é algo que pode ser utilizado por qualquer pessoa. Ler e escrever traz uma certa higiene mental, fazendo com que exista a sensação de melhor bem estar. Pessoas de baixa renda nem sempre podem ter acesso à terapia, mas um livro, um caderno e lápis é mais fácil de conseguir, e assim sendo, podem utilizar como forma de autoconhecimento, melhoria na autoestima e compreensão de sentimentos. Levando para as escolas públicas esse movimento a partir de um projeto social literário, acredito ser algo a contribuir não só cognitivamente, mas emocionalmente na vida das futuras gerações.



Palavra & Verso - Gostaria de deixar um recado de motivação para novos escritores continuarem a buscar por seus sonhos?

Patrícia Falcão - Com maior prazer! Por mais que pareça difícil a caminhada, seja em qual área for, ou se nem tiver área definida, saboreie os segundos da vida como se fossem pedaços de chocolates dos mais diversos tipos. Uns dias, os mais amargos, em outros os mais doces, certamente virão alguns vencidos e darão uma grande dor de cabeça. Porém continue experimentando os sabores até perceber a necessidade correta de cacau que faz bem para você e se não puder comer chocolate, que seja o que você goste sem excesso e sem falta. Com a vida nem tão intensa para colocar fogo em tudo (escreve suspense, rs) nem tão gélida para a melancolia reinar (escreve um romance que passa, rs). Brincadeiras à parte, mas é bem por aí, metaforicamente falando. Para escrever é necessário viver, ousar e enxergar além do que os olhos percebem. Para buscar nossos sonhos, a coragem de ser diferente e pagar o preço disso é fundamental. Vai doer às vezes, outras vezes vai parecer que não vale a pena ou não faz sentido, mas preste atenção no que te fez chegar até esse sonho, qual foi o caminho que percorreu até aqui. Faça de sua maior fraqueza sua força e caminhe o mais alto que suas “asas” alcançarem. Estude como puder, mas estude sempre mais um pouco! Informe-se, posicione-se, mas saia de confusões. Saiba chegar nos lugares pontualmente e não seja o último a sair. Nada de valioso encontrará no que dizem sucesso, muito menos na comparação em ter que ser melhor que o outro, mas a plenitude é a maior riqueza e fonte de sabedoria! Cuide de sua saúde física e mental e viva com mais amor. Faça terapia para compreender a palavra amor, saia do google, rs. Lembre sempre que a maior motivação está dentro de nós. Até breve!


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